por Cleide Silva, com colaboração de Márcia de Chiara e Mônica Scaramuzzo | Estadão
Fotos: Roberto Parizotti
As projeções preliminares de diversos segmentos da economia após
dez dias de greve dos caminhoneiros apontam para perdas de mais de R$ 75
bilhões. Em alguns casos, os prejuízos ainda podem aumentar mesmo após o
fim do movimento, pois, dependendo do tipo de atividade, a retomada
poderá levar de uma semana a 20 dias. Também há preocupação sobre como
será a volta das atividades. "Não sabemos ainda, por exemplo, como será
precificado o aumento do frete", afirma José Carlos Martins, presidente
da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). "Dá arrepios só
de pensar." O setor calcula que deixou de gerar, até agora, R$ 3,8
bilhões, e precisará de duas a três semanas para retomar totalmente as
atividades. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima
que as áreas de comércio e serviços deixaram de faturar cerca de R$ 27
bilhões entre os dias 21 e 28. "São nítidos os transtornos causados pelo
desabastecimento generalizado, que pode provocar danos ainda maiores ao
País, como aumento do desemprego, falta de gêneros alimentícios,
estoques, baixo fluxo de vendas e prejuízo ao desenvolvimento
econômico", diz o presidente da Fecomércio de Minas Gerais, Lúcio Emílio
de Faria Júnior.Os supermercados contabilizam R$ 2,7 bilhões em
prejuízos. Para os distribuidores de combustível, as perdas já atingem
R$ 11,5 bilhões. Com menos bloqueios nas estradas e a volta, lentamente,
do abastecimento de combustíveis, algumas empresas estão retomando
operações. Das 167 unidades produtoras de aves, ovos e suínos que
estavam paradas em todo o País, 46 reiniciaram atividades nesta
quarta-feira (30) informa a Associação Brasileira de Proteína Animal
(ABPA). As empresas do setor acumulam prejuízos de R$ 3 bilhões e
perderam 70 milhões de aves, mortas por falta de ração. Com parte do
abastecimento retomado, a mortandade deve acabar. Segundo a Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a cadeia
produtiva da pecuária de corte deixou de movimentar entre R$ 8 bilhões e
R$ 10 bilhões. Os produtores de leite perderam R$ 1 bilhão, parte disso
com o descarte de mais de 300 milhões de litros de leite. A
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) calcula que
produtores em geral devem levar de seis meses a um ano para se
reestruturarem. O setor têxtil estima perdas de R$ 1,8 bilhão e, até
esta quarta, ainda tinha cerca de 70% das empresas paradas ou prestes a
parar. A previsão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit) é de que serão necessários pelo menos 20 dias para que a
situação seja normalizada. Na indústria automobilística quase todas as
fábricas estão paradas desde sexta-feira. O presidente da Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio
Megale, diz que "a maioria retomará a produção, de maneira gradual, a
partir de segunda-feira". As unidades da Fiat em Minas Gerais e da Jeep
em Pernambuco voltam a operar nesta quinta-feira, 31. A Anfavea não
divulgou prejuízos, mas, com base na produção média de veículos em
abril, cerca de 51 mil veículos deixaram de ser fabricados. O resultado
deste mês poderá interromper uma sequência de 18 meses de alta na
comparação interanual. Até terça-feira as vendas do setor tinham caído
11% em relação a abril (para 192,8 mil unidades), mas ainda devem
superar o volume de maio de 2017, de 195,6 mil unidades. A indústria
química soma R$ 2,5 bilhões em perda de faturamento e calcula em dez
dias o período para retomada de atividades.