Por Walmir Rosário*
Amados por muitos, odiado por alguns, assim era o político Fernando Gomes. Em toda sua
história acumulou um cabedal político invejável, se elegendo prefeito de Itabuna por cinco
vezes, deputado federal por duas vezes, uma delas o mais votado. Neste domingo (24),
em que nos deixou, li numa postagem da História de Itabuna: “Todo o itabunense já foi
fernandista pelo menos uma vez na vida”. Concordo plenamente!
Político altivo, Fernando Gomes sabia como ninguém conquistar seus eleitores, pelo jeito
simples e sincero de tratá-los como se fossem amigos de infância, apesar de conhecê-los
recentemente. Entrava nas casas e só parava na cozinha, após destampar as panelas,
comer um tira-gosto, perguntar pelo cafezinho e sentar-se no sofá para trocar uns dois
dedos de prosa. Muitos o criticavam chamando-o de populista, oportunista, aproveitador.
O bom mesmo era o resultado nas urnas, elevando Fernando Gomes um fenômeno
político. Destemido, nos comícios encarava os adversários políticos, chamando-os para a
briga, até mesmo com armas, se necessário. Nunca precisou chegar às vias de fato,
limitando-se ao bate-boca através do microfone, como fazia com o todo-poderoso Antônio
Carlos Magalhães.
Prefeito de Itabuna, sempre era convidado por Calixtinho Midlej para jantar com Antônio
Carlos Magalhães, de forma civilizada, quando o assunto a ser tratado era o
desenvolvimento de sua cidade. Um exemplo foi a vinda da Nestlé quando ainda
secretário da Administração do prefeito José Oduque, inaugurada na gestão Fernando
Gomes como prefeito.
Mas qual foi a escola política do menino nascido em Itamirim – hoje Firmino Alves –
outrora município de Itabuna? O velho Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), acompanhando
seu irmão, o ex-deputado estadual Daniel Gomes. Àquela época o PTB era chefiado pelo
deputado Aziz Maron, que foi líder do governo Getúlio Vargas na Câmara dos Deputados,
portanto, político graduado e de muitas regalias.
E o próprio Fernando Gomes foi beneficiário da experiência e poder de Aziz Maron, que o
indicou para cargo na Estrada de Ferro Ilhéus-Conquista e, posteriormente para o Instituto
de Pensão e Aposentadoria dos Comerciários (IAPC). Pessoa capaz de fazer novos amigos,
Fernando vai trabalhar por conta própria, agora na comercialização de gado em toda a
região.
Com a reorganização partidária, se muda com o irmão Daniel para o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), e se torna o braço-direito do prefeito José Oduque, que o
indica como sucessor. Daí pra frente passou a caminhar com passos largos, deu
continuidade à modernização de Itabuna, asfaltando a cidade, construindo obras
importantes como escolas, ginásio de esportes e outros equipamentos urbanos.
Já na primeira campanha como candidato a prefeito, Fernando Gomes sofreu todo o tipo
de difamação, na qual os adversários tentavam apresentá-lo como um homem que sequer
sabia falar e sem competência para o cargo. Ouvindo o professor Flávio Simões, deu o
troco aos adversários usando como marketing o apelido de Fernando Cuma, aproximando-
o ainda mais das pessoas mais carentes.
Técnico em contabilidade e acadêmico em direito, deixou a faculdade para cuidar melhor
dos interesses de Itabuna, como gostava de explicar sua saída da Fespi. Conhecia como
ninguém o orçamento do município e as prioridades do investimento e custeio, tinha na
memória todos os números, sem a necessidade de recorrer a fichas e computadores, o
que deixava seus colaboradores assustados nas reuniões.
Por ser amado e odiado, era o político mais discutido de Itabuna e região, muitas das
vezes mal interpretado pelo tom de voz alto e frases ininteligíveis, o que dava munição aos
adversários. Como bom político que era, não guardava mágoas e tratava a oposição
simplesmente como adversária, nunca como inimiga, tanto assim que fazia acordos com o
centro, a direita e a esquerda, cumprindo-os, todos.
Em sua penúltima administração, resolveu, de uma tacada só, eliminar mais de mil cargos
de confiança da estrutura do município, o que não foi bem recebido pelos eternos
seguidores. Em seguida, promoveu um concurso público para diversos cargos, agora
criticado pela oposição, de que seria um simples conchavo para colocar os amigos na
prefeitura. Um grande engano. Como primeira medida indeferiu a participação de um
secretário no concurso.
O político Fernando Gomes nunca ficou em “cima do muro” nas questões sobre Itabuna,
às vezes aumentando a tensão em algumas temas. Na sua penúltima administração
resolveu organizar a cidade, devolvendo as praças públicas ao povo, retirando ambulantes
de todos os tipos e até moradores. Não se importou com as ferrenhas críticas e foi
elogiado ao concluir as obras. O mesmo aconteceu no Centro Comercial.
Em 1992 deixou os petistas atônitos, assim que seu candidato, José Oduque, perdeu a
eleição para Geraldo Simões. Enquanto eles reclamavam que recorreriam à justiça para
conhecer as contas do município, no dia seguinte Fernando publica decreto formalizando a
transição (a primeira democrática de Itabuna), colocando secretários e documentos à
disposição do futuro governo.
Como deputado federal remou contra a maré, mexendo com os poderosos ao propor a
criação do Estado de Santa Cruz, dividindo a Bahia em dois estados. Sofreu uma grande
campanha contra nos meios de comunicação, mas não se abateu. A cada final de gestão
prometia se aposentar, cuidar de suas fazendas, mas sempre voltava à prefeitura
revelando que tinha sido chamado pelo povo.
O mesmo povo que agora o reverencia na sua partida. Morto, sim, mas sempre lembrado!
*Radialista, jornalista e advogado
Foto:Pedro Augusto
Em contato com familiares do ex-prefeito Fernando Gomes Oliveira (PTC), o prefeito Augusto Castro (PSD) disponibilizou uma aeronave à família para o translado do corpo e conduzir para Itabuna os parentes que se encontram na capital baiana. Augusto Castro também determinou que as instalações do Teatro Municipal Candinha Dórea sejam utilizadas para que o ex-prefeito seja velado e que a comunidade possa dele se despedir.
Em contato com o governador Rui Costa (PT), o Chefe do Executivo itabunense disse que o governador lamentou profundamente a perda do líder político de Itabuna e região e também colocou a disposição do prefeito e familiares de Fernando Gomes a estrutura do Governo do Estado para fazer o translado do corpo.
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Departamento de Comunicação Social
Prefeitura de Itabuna
Devido ao falecimento do ex-prefeito Fernando Gomes Oliveira ocorrido hoje, d dia 24, em Salvador, a Prefeitura de Itabuna e a Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC) suspenderam a solenidade de entrega do prêmio “Estrelas de Itabuna: Escritores”, em que homenageia e valoriza neste ano os escritores itabunenses. A festa estava prevista para esta segunda-feira, dia 25, às 19 horas, no Teatro Municipal Candinha Dórea dentro da programação do aniversário do município, que completa 112 anos de emancipação político-administrativa.
Também foram cancelados o Celebra Itabuna, festival de música gospel, que seria realizada na praça da Câmara Municipal de Vereadores, e a roda de conversa “Juventude e a Literatura Regional” devido ao falecimento do ex-prefeito e por causa do Decreto de Luto Municipal por três dias.
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Departamento de Comunicação Social
Prefeitura de Itabuna
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