por Bruna Castelo Branco
Depressão é apelidada de 'cachorro preto' / Foto: OMS
Jovem alemão de apenas 28 anos, o copiloto do Airbus A320 da Germanwings que caiu na terça-feira (24) nos Alpes franceses, Andreas Lubitz, entrou no curso de aviação em 2008 e interrompeu no ano seguinte após receber o diagnóstico de depressão. Lubitz procurou ajuda psiquiátrica por apresentar crises de ansiedade e a “Síndrome de Burnout”, popularmente conhecida como síndrome de esgotamento profissional. De acordo com o promotor de Marselha, Brice Robin, o acidente aéreo que matou 150 pessoas pode não ter sido apenas um acidente. Segundo o promotor, há evidências de que Lubitz derrubou o avião de forma deliberada – ou seja, planejada e intencional – após desviar a aeronave para os Alpes da França e trancar o piloto fora da cabine de comando. A principal suspeita é de que o copiloto teria sofrido uma recaída na depressão e decidiu cometer suicídio. De acordo com o jornal alemão Bild, que teve acesso a documentos da Autoridade de Supervisão do Transporte Aéreo, Lubitz tinha um acompanhamento médico regular e segundo o presidente da Lufthansa, empresa aérea ligada a Germanwings, testes comprovaram que ele estava 100% apto para voar.
“Casos de depressão mais leves podem ser tratados apenas com psicoterapia”, explica psiquiatra / Foto: Andreas Lubitz / Arquivo Pessoal
De acordo com a psiquiatra Tânia Noya, recaídas podem acontecer e, caso o tratamento adequado não seja feito, podem se tornar recorrentes. “Estudos mostram que os pacientes que tomam antidepressivos pelo período indicado e fazem psicoterapia têm melhores resultados e apresentam menos recaídas. O tratamento deve ser feito pelo tempo adequado e o antidepressivo não pode ser retirado de forma abrupta”, explica. Em casos mais graves, o eletrochoque ainda é utilizado, mas apenas em salas cirúrgicas e com acompanhamento e supervisão médica. Ainda segundo Tânia, muitos pacientes não se dão conta que têm a doença quando procuram ajuda. Os principais sintomas de depressão são desânimo, desinteresse em atividades em geral, alteração de sono e de apetite, irritabilidade, descuido com a aparência e mudanças comportamentais. A ciência ainda não explica completamente de onde vem a depressão: pode ser acometida por uma “tendência” genética, por traumas de vida ou ambos. “A doença mental é bem democrática, acontece em quase todos os países em todas as classes sociais”, conta a especialista.
“É quase um suicídio a cada 40 segundos” afirma o psiquiatra Humberto Corrêa, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria / Foto: Organização Mundial de Saúde (OMS)
Felizmente, o suicídio não é uma prática comum entre quem sofre de depressão. “O número não é muito alto, e há alguns fatores que inibem. Pacientes que tem família construída, por exemplo, correm menos risco de um dia vir a se suicidar, mas não há regras”, esclarece Tânia Noya. Também não há regras sobre o comportamento de alguém que quer se suicidar: a pessoa pode dar dicas, mas também pode nunca falar a respeito. Todos os anos são registrados cerca de dez mil casos de suicídio no Brasil e mais de um milhão em todo o mundo. “É quase um suicídio a cada 40 segundos” afirma o psiquiatra Humberto Corrêa, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). É importante também lembrar que pacientes psiquiátricos em geral não são perigosos para a sociedade. “Quantas vezes aconteceu isso? É claro que é algo raríssimo, a maioria das pessoas que comecem homicídios não são pacientes psiquiátricos”, explica Tânia. A especialista também lembra que é importante distinguir depressão de outros transtornos mentais, como psicose ou esquizofrenia, e completa: “Quando os pacientes se suicidam, geralmente estão sozinhos. São raros os casos que envolvem a família ou outras pessoas”.
A depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo e é caracterizada como uma doença incapacitante / Foto: Organização Mundial de Saúde (OMS)
A depressão é um transtorno psiquiátrico grave e pode ocorrer em qualquer fase da vida: na infância, adolescência, maturidade e velhice. Também é importante ressaltar que é uma doença como qualquer outra, e não sinal de loucura ou irresponsabilidade. A depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo e é caracterizada como uma doença incapacitante. Os quadros clínicos variam de duração e intensidade e podem ser divididos em três graus: leves, moderado e graves. O diagnóstico precoce é necessário para evitar complicações futuras e para manter uma vida saudável. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma campanha com o objetivo de conscientizar a população sobre os problemas que pessoas depressivas podem enfrentar e para desmitificar a doença, caracterizando-a como um transtorno mental grave. Veja abaixo o vídeo com legenda em português.