Com 27 anos de funcionamento e 100 mil partos realizados pelo SUS sem o registro de nenhum caso de infecção hospitalar, a Maternidade Ester Gomes, também conhecida como Maternidade da Mãe Pobre enfrenta uma séria crise financeira, com dívidas superiores a R$ 8,7 milhões, e investe num projeto para a sua recuperação institucional, com saneamento das finanças e retomada das operações.
O presidente da Fundação Fernando Gomes, Sérgio Gomes, vem realizando reuniões com empresários, políticos como o secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes, e os deputados João Bacelar e Paulo Magalhães, além de representantes da sociedade civil organizada para elaboração de um projeto que assegure a retomada das operações dos 55 leitos e resgate da realização de 440 partos por mês.
Ao considerar que veio para fazer a diferença e não para ser mais um no comando da fundação, Sérgio Gomes explica que encontrou aquela unidade inteiramente abandonada, sucateada e sem condições de funcionamento: “Assumimos a direção no final de fevereiro e no início de março, iniciamos uma série de melhorias pontuais, visando a retomada das operações, o que está sendo feito de forma gradual compatibilizando ação com atenção aos pacientes.”
Parceria
Numa das primeiras medidas, o presidente da Fundação Fernando Gomes conta que procurou o governo do estado para ampliar a parceria institucional, “mas, o que encontramos foi um débito de R$ 93 mil deixado pelo meu antecessor, impedindo a negociação para obtenção dos recursos.” A fundação também pretende renegociar o convênio com o SUS, o único no município atrelado à produtividade e com pagamento pós-fixado contra prestação de serviços.
Ele salienta que a crise financeira afetou inclusive os 70 trabalhadores da instituição que estão com sete meses de salários atrasados, além de um passivo trabalhista de R$ 800 mil. O débito com os médicos chega a R$ 830 mil e para retomada do funcionamento pleno a maternidade precisa, segundo Sérgio Gomes, contratar mais 30 profissionais, o que depende da ampliação do faturamento e ampliação dos serviços. A instituição também deve 28 meses de energia à Coelba e registra ainda uma dívida que pretende renegociar com a Emasa, cuja última conta foi de R$ 25 mil.
Corpo médico
Sérgio Gomes conta que a primeira tarefa ao assumir o controle da maternidade foi o da recomposição do corpo médico, que hoje tem 10 profissionais e que atuam em equipes numa escala com plantões de 24 horas integradas por um obstetra, um pediatra e um anestesista. A maternidade opera com dois centros cirúrgicos e o novo projeto da administração para a retomada das atividades inclui a implantação de uma Unidade de Terapia Intensiva para gestantes em situação de risco e uma unidade neonatal, uma proposta que conta com apoio do deputado federal João Carlos Bacelar através de uma emenda parlamentar.
Hoje a unidade está operando com apenas 15 leitos e 40 deles ociosos, mas com a mesma estrutura de limpeza, de serviços de alimentação e de logística para 55 leitos, o que representa um custo operacional maior por paciente e um faturamento que chega a R$ 253 mil por mês, quando a remuneração ideal seria de R$ 800 mil, funcionando de forma regular e com atendimento pleno.
Zero
O presidente da fundação Fernando Gomes salienta ainda, que a maternidade tinha uma cota de 440 partos mensais e que foi reduzida a zero em janeiro e fevereiro deste ano, com o registro de 128 partos em março, a partir das mudanças iniciadas por ele, chegando a 177 partos em abril. Os dados operacionais registram, segundo ele, 23 partos em novembro, um em dezembro do ano passado com a desativação gradual dos serviços em função dos problemas de gestão financeira e operacional.
Para a retomada dos serviços este ano, a primeira providência de Sérgio Gomes foi a montagem de um quadro médico completo, devido à demissão dos profissionais em função do atraso nos pagamentos e falta de credibilidade dos antigos gestores. Além da remontagem do corpo médico com a contratação de obstetras, pediatras e anestesistas o gestor cuida da infraestrutura da instituição, que tem uma ambulância parada por falta de motorista.
Leilão
Ele lembra que ao assumir a gestão daquela unidade o prédio da maternidade estava indo para leilão em função das dívidas com a receita federal, “conseguimos junto ao judiciário um prazo de 90 dias para tentarmos a renegociação da dívida que é superior a R$ 5 milhões com a previdência social.” Hoje, a instituição paga por mês R$ 54 mil de encargos financeiros em função do seu pesado endividamento.Ainda nos próximos dias, Sérgio Gomes pretende ir a Brasília para tentar renegociar o parcelamento das dívidas com a receita federal sem comprometer o orçamento da maternidade, que além dos problemas financeiros enfrentados não recebeu nem mesmo a prestação de contas da gestão passada, “o que impede o levantamento dos débitos da instituição pela falta de dados contábeis”, complementou, anunciando que pretende adotar as medidas judiciais cabíveis. Em Brasília ele também manterá contatos com os deputados federais João Bacelar e Paulo Magalhães.
Hoje, a instituição tem um custo mensal de R$ 150 mil com pessoal se levados em conta os encargos trabalhistas, o que é acrescido de um gasto diário de R$ 3 mil com atendimento médico, que sobe para R$ 4,7 mil nos finais de semana, “o que permite manter uma escala de atendimento 24 horas nos sete dias da semana”.
Outra estratégia para a retomada das atividades da maternidade tem sido a parceria com empresas e um frigorífico local que doa um boi por mês. Também colaboram com a instituição o leite Boa Hora, a Incamilho, a Padim e o Marcado Sá, que fazem doações de alimentos e contribuíram na realização de um evento no Dia das Mães.