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sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anysio morreu foi de amargura - Por Ricardo Setti


Não posso dizer que conheci o Chico Anysio, morto hoje no Rio, aos 80 anos. Até porque minha área de atuação no jornalismo não incluiu incursões importantes na seara das artes e espetáculos.
Mas, na trajetória de jornalistas com longas carreiras, é difícil não topar com celebridades, de uma forma ou de outra. Certa vez, já há alguns bons anos, numa viagem profissional, coube-me sentar-me a seu lado durante um voo São Paulo-Buenos Aires.
E conversamos durante as quase três horas de duração da viagem.
Chico Anysio, sem qualquer surpresa para mim, revelou uma grande frustração.
Ganhava muito bem, tinha uma vida magnífica, havia se casado com mulheres maravilhosas, que lhe deram uma penca de filhos. Entretanto, se sentia desvalorizado pela Globo, onde trabalhava há décadas, achava que o novo humor feito pela emissora e por outros profissionais pouco levavam em conta seu enorme legado – e por aí vai. Eu já sabia mais ou menos como ele se sentia por haver lido várias de suas entrevistas.
Agora, que o grande humorista morreu, tudo o que li a seu respeito e o que ouvi dele naquela viagem me fez concluir que Chico, que enfrentou galhardamente problemas sérios de saúde e sofreu um calvário de entra-e-sai de hospitais e UTIs recentemente, morreu mesmo é de amargura.
Ele podia ter suas razões, claro. Inclusive sobre a patrulha implacável que sofreu por ter-se casado, a certa altura da vida, com a ex-ministra da Economia de Collor, Zélia Cardoso de Mello.
O que me entristece é que não parecia lembrar-se mais do quanto foi respeitado por colegas, por críticos, pelo público – e, sobretudo, amado pelas multidões de brasileiros que divertiu na TV e em seus impagáveis shows.
Chico era brilhante. Escrevia roteiros brilhantes, sozinho ou com colaboradores. Sempre foi um vulcão de ideias e de criatividade – ninguém cria mais de duzentos personagens marcantes sem ser um gênio.
Era um grande comediante e, para quem não sabe, um grande ator. Tinha um domínio de palco como poucos showmen de qualquer parte do mundo. Publicou livros divertidíssimos.
Ele se achava esquecido, mas se enganou, até porque, na TV, no cinema ou nos palcos, é inesquecível.
Morreu de amargura, e não precisava.

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