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sábado, 21 de janeiro de 2012

Artista plástico se arrepende de dia de fúria: "Só quero viver e cumprir pena"

Veja passo a passo como foi que esta semana um homem saiu roubando carros e dando tiros pelas ruas de São Paulo. E mais: qual teria sido a motivação dele pra cometer esse absurdo?

A ação foi impressionante. Dez veículos batidos. Pelo menos 18 vítimas, duas feridas por tiros. Mais de 30 disparos. Esse é o saldo dos crimes cometidos pelo artista plástico Michel Goldfarb Costa, de 34 anos. Tudo em cerca de 20 minutos, na manhã da última segunda-feira (09).

Só dois dias depois, Michel se entregou à polícia e explicou o motivo de tanta violência: ele estaria sendo perseguido. Fugia para salvar a própria vida. “Eu não quis ferir ninguém, eu quis me proteger, entendeu?”, diz Michel.

O desespero de Michel teria começado por volta das 4h da manhã de segunda-feira (09). Ele suspeita da presença de estranhos no quintal. Chama um vigia. Nada de estranho é encontrado, mas Michel não se convence.

“Eu comecei a ouvir barulhos, barulho dos cachorros latindo, e sentia que alguma coisa ia acontecer. E daí eu peguei e desci para pegar minhas coisas para poder sair e bater em fuga, para preservar minha vida”, conta.

Michel sai dirigindo o próprio carro. O porteiro vê que ele usa um colete à prova de balas. E segura uma arma.

Pouco antes das 5h, Michel sai com o carro do condomínio e parte para o que ele chamou de uma fuga desesperada. Ele segue por 46 quilômetros - de Cotia a São Paulo. Para na Avenida dos Bandeirantes.

Michel sobe com o carro sobre uma calçada e estraga a roda. Ele então para e desce. Para seguir fugindo, precisa de outro veículo. Armado, ele tenta roubar um táxi, que escapa. Mas logo em seguida aborda outro taxista.

“Ele apontou a arma pra gente no farol e falou: ‘Desce do carro!’. Eu fui destravar ele já disparou duas vezes. Aí eu gritei: ‘Calma!’”, conta o taxista Elias da Silva.

O taxista e a passageira saem do carro. Com o táxi roubado, Michel continua a fuga. Mas só por sete quilômetros. Por volta de 5h30, horário em que já há bastante movimento num cruzamento, Michel provoca um acidente. Segundo testemunhas, ele bate de raspão em um terceiro táxi.

Depois, acerta outro carro, onde estão um casal e um bebê de dois meses.

“Foi uma pancada muito forte. A gente pensou que era um caminhão”, conta David Neves, técnico de instalação de TV a cabo.

O automóvel do casal cruza a avenida e para no canteiro central. Michel aborda mais um carro, onde estão um eletricista e a mãe. Atira quatro vezes - o homem é atingido no abdômen. Ele ainda está hospitalizado, mas não corre risco de morte.

Michel tenta roubar o veículo, mas não consegue dar a partida. De acordo com testemunhas, ele sai alucinado, disparando contra os motoristas que tentam fugir. Mas nem todos conseguem.

“Ele veio bem perto mesmo. Aí meu noivo desviou e ele atirou. Foi muito, muito rápido. A perna do meu noivo fez o movimento acho que da embreagem, foi a hora que a bala passou. Como eu abaixei, a bala passou por trás das minhas costas. Por pouco não pega nem em mim, nem nele”, conta a agente de viagem Fernanda Roque.

O motorista de outro carro se abaixa.

“Eu deitei, pus a cabeça pra porta. Só raspou (no braço)”, conta o engenheiro químico Ademir Guerretta.

Na polícia, Michel afirmou ter atirado só nas fechaduras para abrir as portas. “Eu pedia pelo amor de Deus para a pessoa me deixar o carro, falava: ‘Gente, por favor, estão me seguindo, vão me pegar, eu preciso só do seu carro, por favor’”.

“Não tem nada disso que mandou parar, ele surgiu na minha frente atirando”, afirma Ademir.

No meio do tiroteio, a polícia recebe pedidos de socorro.

“Tem um cara com uma arma na mão atirando igual a um louco”, diz uma testemunha.

As viaturas vão ao local. Mas cruzam, sem saber, com Michel. Ele segue no sentido contrário - agora em outro carro, que acaba de roubar. A troca de automóveis confunde os policiais.

“Nós não estávamos entendendo essa continuidade da mesma pessoa em vários veículos. E esse quebra-cabeça nós só entendemos praticamente no final”, diz o porta voz da Polícia Militar de São Paulo, capitão Cleodato do Nascimento.

As colisões e disparos não param. Depois de bater em um ônibus, Michel rouba mais um carro. À frente, nova batida, outro roubo. A confusão só termina 23 quilômetros depois do primeiro carro que ele roubou.

Na Marginal Tietê, Michel bate de novo. Ele desce do carro, caminha até o rio, pula o muro de proteção e se esconde nas tubulações de esgoto.

Um helicóptero da polícia e 12 viaturas procuram Michel. Ele fica escondido por 12 horas.

“Eu ouvi as vozes de pessoas e tal conhecidas. Não ouvi mais, eu falei: ‘Elas foram embora’. Então eu disfarcei que eu tinha morrido, fui me arrastando pelo cano, até cair no rio. Uma luta pela vida mesmo”, conta Michel.

Segundo Michel, os perseguidores eram vizinhos do condomínio, que reclamavam do barulho dos dez cachorros do artista plástico. Michel chegou a denunciar à polícia um vizinho que teria jogado pedras na casa dele.

“Todas as vezes que os cães latiam com mais intensidade, ele achava que alguém estava invadido o quintal da sua residência, da sua chácara, e estaria lá para matá-lo”,diz o delegado Marcos Antônio Manfrin.

Para psiquiatra forense Daniel Barros, o comportamento de Michel pode indicar um surto psiquiátrico. “Então uma briga de vizinho, uma desavença, uma animosidade, na cabeça de uma pessoa já vira uma perseguição, uma coisa perigosa para a vida dela”.

Michel mora sozinho em uma casa num condomínio de luxo. Parentes disseram à polícia que ele só recebe a visita da namorada e aos fins de semana. Formado em administração de empresas, não exerce a profissão. Vive de investimentos e do dinheiro da família. É em casa que passa a maior parte do tempo, cuidando dos cachorros e pintando quadros - como os que doou a um hospital de São Paulo.

No ano passado, Michel fez algumas aulas em um clube de tiro, na Zona Oeste de São Paulo. Lá, ele praticava com a pistola que usou para roubar os carros na segunda-feira. Segundo a polícia, o artista plástico estava prestes a comprar uma nova arma. Muito mais potente do que a que já tinha.

“Pelo que tomamos conhecimento, ele estava no processo de aquisição de uma outra arma, uma espingarda calibre 12”, conta o delegado.

A polícia ainda procura a pistola calibre 380 de Michel. Ele diz que ela se perdeu na fuga. A arma estava irregular porque o artista plástico não fez o recadastramento obrigatório em 2009. Michel foi indiciado pelos crimes de tentativa de latrocínio, tentativa de homicídio, lesão corporal, disparo de arma de fogo e porte ilegal.

Os novos advogados, contratados pela namorada e pela família, ainda estudam a estratégia de defesa. Mas afirmam que as acusações contra Michel são pesadas demais.

“É inimaginável que ele quisesse roubar para matar, ou matar pra roubar. Isso tudo tem que ser aferido pra ver se ele agiu com aquilo que nós chamamos de dolo, da vontade de praticar o crime, ou se tratava de uma pessoa confusa mentalmente falando”, argumenta o advogado Alberto Toron.

Em entrevista exclusiva ao repórter Valmir Salaro, Michel se disse arrependido. "Totalmente arrependido, mas acho que não mereço a pena de morte. Tentei salvar minha vida. Só que nem tudo é fácil de você provar, infelizmente”.

E revelou o que espera daqui para a frente. “Só quero viver e cumprir minha pena, só isso”.

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