Foto: Yago Sales / Metrópoles
Os exames periciais realizados nos corpos dos nove jovens mortos
em Paraisópolis no início deste mês apontam para traumas condizentes com
pisoteamento, como contusões e escoriações.
De acordo com os laudos obtidos com exclusividade pela
reportagem, a causa das mortes apontada é asfixia mecânica provocada por
sufocação indireta. Para integrantes da cúpula da Segurança Pública
ouvidos pela reportagem, os dados são compatíveis com mortes por
“atropelo”.
Os documentos foram entregues à Polícia Civil nesta sexta
(13) e devem ajudar os policiais na investigação. O caso é conduzido
pelo DHPP (departamentos de homicídios), com participação da
Corregedoria da Polícia Militar.
De acordo com integrantes da cúpula da Segurança Pública
ouvidos pela reportagem, embora já esperado, o resultado dos exames
ajuda a afastar um eventual homicídio doloso (intencional) cometido no
tumulto.
Assim, as mortes devem ser tratadas como um crime culposo
(sem intenção de matar), responsabilidade que também pode ser estendida
aos organizadores do evento. Essa decisão sobre os culpados só deve
ocorrer no final da apuração, para o qual não há previsão.
De acordo com os laudos, todas as vítimas tinham
substâncias tóxicas na corrente sanguínea —algumas delas, mais de uma
substância. Na lista de elementos detectados estão álcool, cocaína,
lança-perfume (loló), anfetamina e crack.
A maioria das vítimas ingeriu álcool e lança-perfume; duas
delas consumiram apenas lança-perfume, produto de consumo frequente em
bailes da periferia. Uma das vítimas tinha, porém, quatro substâncias
diferentes no corpo: álcool, lança-perfume, cocaína e crack.
Há uma divergência entre policiais ouvidos pela reportagem
sobre quanto essas drogas contribuíram para as mortes. Parte afirma
acreditar haver ligação direta, porque trata-se de depressores cardíacos
que, assim, contribuiriam para a insuficiência respiratória das
vítimas.
Outra parte, porém, descarta a ligação com a mortes, a não
ser que tenham causado problemas de coordenação motora que os levaram ao
solo, ou que os jovens já estivessem caídos na viela onde foram
pisoteados.
A morte dos jovens na favela ocorreu durante ação policial em um baile funk no início deste mês (
veja aqui).
Os policiais envolvidos na operação foram afastados por determinação do
governador João Doria (PSDB). As investigações abertas tentam apurar se
os PMs deram causa às mortes ou se elas ocorreram por eventual tumulto
provocado por tiros disparados por criminosos.
No começo da tarde desta sexta (13), o secretário da
Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, não quis
comentar o resultado dos laudos. “Vamos aguardar os inquéritos. Tem dois
em curso, é prudente que esperemos a conclusão deles”.
O governador João Doria também não quis comentar o laudo,
mas afirmou que, se comprovada a responsabilidade dos militares pelas
mortes, o governo pode pagar uma indenização às famílias das vítimas,
como fez no caso do atentado à escola Raul Brasil, em Suzano (SP).
“Temos que aguardar o final do inquérito. O estado não pode
precipitar juízo a esse respeito. Há um inquérito policial
transparente”, disse Doria. “Se na conclusão houver circunstância onde o
Estado tenha culpa, nós vamos agir como agimos na escola Raul Brasil,
em Suzano, pagando as indenizações e fazendo isso com a mesma prioridade
que fizemos em Suzano”, ressaltou.