Com as primeiras visitas à região ainda no
século XVI, Bom Jesus da Lapa se desenvolveu por meio de uma gruta localizada dentro de um dos morros que compõem o município. Após o artista plástico português
Francisco de Mendonça Mar ter se estabelecido no local como um monge, viajantes e peregrinos visitavam a fazenda Morro, da qual surgiu o município, para procissões e descanso. Grande parte da importância da cidade se deve ao turismo religioso. Bom Jesus da Lapa é sede de uma das principais romarias do Brasil.
A região à esquerda e direita do
Rio São Francisco, no oeste baiano, do qual Bom Jesus da Lapa se localiza, era ocupada por várias populações indígenas, dentre elas os
tamoios,
cataguás,
xacriabás,
aricobés,
tabajaras,
amoipira,
tupiná,
ocren,
sacragrinha e
tupinambás.
[10]
Os primeiros registros da chegada portuguesa a Bom Jesus da Lapa datam do
século XVI, quando
Duarte Coelho Pereira, o capitão donatário de
Pernambuco, esteve no morro de Bom Jesus da Lapa, em uma expedição exploratória, entre os anos de 1543 a 1550.
[11] Em 1553,
João III de Portugal determinou que
Tomé de Sousa conhecesse as nascentes do São Francisco.
Francisco Bruza Espinosa, residente em
Porto Seguro, foi o responsável pela expedição
[12] que, segundo estudiosos, pode ter chegado até a cidade, um ano e meio após o seu início. No entanto, não houve ocupação permanente no local por
lusodescendentes.
[10]
A colonização, de fato, ocorreria somente no século seguinte, quando
Antônio Guedes de Brito, pecuarista e latifundiário brasileiro, recebeu
sesmarias que compreendiam em várias regiões do oeste baiano em agosto de 1663.
[11] Esta região, compreendida por municípios como Bom Jesus da Lapa
[13] e que se tornou o segundo maior latifúndio do Brasil-colônia, ainda era ocupada por nativos. Guedes de Brito, conhecido pelo desbravamento, foi também reconhecido pela extinção de grande parte desta população utilizando armas. Os indígenas restantes foram escravizados.
[14]
Estátua de Francisco de Mendonça Mar.
Fotografia do morro de Bom Jesus da Lapa, feita pelo fotógrafo Augusto Riedel, em meados de 1868.
Para efetivar sua posse, Brito criou uma bandeira com duzentos homens para fundar fazendas de gado. Muitas grandes propriedades foram criadas, incluindo a Fazenda Morro, também conhecida como Itibiraba,
[14] da qual o povoado de Bom Jesus se desenvolveu, mais tarde. Após sua morte, grande parte das posses foram distribuídas a herdeiros e outras regiões foram vendidas.
[11][15] Mas a fazenda Itibiraba permaneceu pelo poder dos Guedes de Brito.
[14]
Paralelamente ao processo de colonização, o português
Francisco de Mendonça Mar chegou à Bom Jesus da Lapa. Peregrino para uns, andarilho para outros, descobriu um morro à margem direita do
Rio São Francisco. Nas redondezas do lugar existiam apenas alguns currais de gado e empregados de Antônio Guedes. Distribuiu os seus bens, fez-se pobre, andou pelo sertão vestido de um grosso burel e carregando uma imagem do Bom Jesus, onde encontrou uma aldeia de índios
tapuias. Francisco instalou-se numa gruta na parte interior morro, onde foi encontrado por garimpeiros. O local virou santuário em
1691.
[15]
A cidade começou sua existência à sombra do Santuário do Bom Jesus. Mas, com o tempo, foram agregando-se devotos que resolveram fazer sua moradia perto do lugar, onde se achava a imagem do Bom Jesus. O monge construiu, junto ao santuário, um hospital e um asilo para os pobres e doentes, dos quais cuidava.
[16] Assim começou a crescer ao lado da lapa do Bom Jesus um povoado, assumindo o mesmo nome de Bom Jesus da Lapa.
[15]
Durante o
século XVIII, a região de Bom Jesus da Lapa vivia um crescimento. Parte do território da vila Urubu, atual
Paratinga, o então povoado era um dos arraiais mais importantes dali. Por meio do Rio São Francisco, viajantes estabeleciam contatos com outras localidades. Além de Urubu, comércios eram feitos com o
arraial de Bom Jardim.
[14] Em 1734, a região foi mapeada por
Joaquim Quaresma Delgado, um sertanista contratado por colonialistas para percorrer o sertão mineiro e baiano.
[17]
Por meio do santuário, também, várias cerimônias de casamento e batizados eram realizados. Vários relatos, entre os anos de 1717 a 1781, referiam-se ao morro de Bom Jesus da Lapa. Moradores de outras localidades, tais como Urubu e Bom Jardim, além de freguesias mais distantes, como São Caetano do Japoré, Santo Antônio da Manga e Sam Francisco da Barra do Rio Grande do Sul, optavam por realizar batizados no santuário que, por meio de ofertas dos fiéis, mantinham escravos.
[14] Em 1750, o arraial era formado por cinquenta casas de barro.
[11]
Até o
século XIX, Bom Jesus da Lapa permaneceu como parte de Urubu, e sofreu com conflitos de
banditismo. Até então juiz de paz respeitado pela região,
Antônio José Guimarães tornou-se um cangaceiro por conflitos políticos. Um de seus interesses era ter o controle de Bom Jesus da Lapa e, para isso, formou
jagunços e teve, em sua equipe, o padre Francisco Alves Pacheco. Por anos, invadiu localidades como Urubu,
Carinhanha e
Januária, até ser morto na
Província de Goiás em 1854.
[18]
Em 1852, Bom Jesus da Lapa recebeu a visita de um grupo de
geólogos austríacos, responsáveis por um relatório da região. Naquela época, o arraial de Bom Jesus contava com duzentos e cinquenta habitantes distribuídos em 128 casas. Em 1870, a população cresceu, e contava com 1 400 pessoas em 405 residências. Bom Jesus contava também, naquele ano, com uma delegacia.
[11]
Graças às constantes peregrinações que se transformaram em grandes e permanentes
romarias de fiéis ao Santuário do Senhor Bom Jesus, o povoado foi se desenvolvendo, transformando-se em vila em
18 de setembro de
1890, por meio de um decreto estadual feito por
Virgílio Clímaco Damásio, o governador do estado da
Bahia naquela época. No mesmo decreto, foi determinada a criação do distrito de
Sítio do Mato e Lapa, além da separação de
Urubu de Bom Jesus da Lapa. A instalação da nova vila se deu em
7 de janeiro de
1891.
[11]
A Ponte Gercino Coelho, construída em 1990.
Vista aérea de Bom Jesus da Lapa, em 2010.
Em
1923, o governador da Bahia em exercício,
José Joaquim Seabra, determinou, pelo decreto Nº 1.682, de 31 de agosto, a elevação de Bom Jesus da Lapa à categoria de cidade. Em 1930, mais de 60 mil pessoas visitavam a cidade por ano.
[19] Em
1931, o nome da cidade foi mudado para Lapa e, dois anos depois, o distrito de
Sítio do Mato é criado. Mas a mudança de nome não durou por muito tempo e, em 22 de junho de 1935, por meio do Decreto Estadual nº 9571, o nome da cidade volta a ser Bom Jesus da Lapa.
[2] Em 1953, foi criado o distrito de
Gameleira da Lapa.
[15]
Embora a emancipação tenha ocorrido no final do século XIX, até a
década de 1960 o município apresentou um crescimento populacional lento. Um dos motivos se deu por conta da pouca integração entre cidades do litoral, como a capital
Salvador, com o oeste baiano. A partir desta época, a ocupação se fez mais efetiva em Bom Jesus da Lapa, além de outras cidades, como
Santa Maria da Vitória e
Barreiras.
[20]
Em 1991, o santuário completou 300 anos de fundação e, a partir desta data, o fluxo turístico de Bom Jesus da Lapa aumentou. A rede hoteleira do município aumentou, enquanto, a partir de 2007, as cerimônias religiosas passaram a ser transmitidas por emissoras de televisão. A agricultura irrigada, por meio do Projeto Formoso, fez o município se tornar um dos principais produtores de frutos do país, como a
banana. A mancha urbana da cidade cresceu em relação à população que vivia na zona rural, enquanto o mercado imobiliário sofreu um crescimento de 500%. Em contrapartida, o crescimento urbano desordenado gerou um aumento da pobreza.