Exército cerca todos os acessos às favelas dos complexos da Penha e do Alemão
RIO - Equipes do Exército cercaram todas as entradas das favelas dos complexos da Penha e do Alemão. Pouco antes das 19h, policias militares fecharam os acessos à comunidade e regiões próximas em Ramos, para evitar a fuga dos bandidos. Uma base de operação deve ser montada no local. Os criminosos colocaram gelos-baianos cimentados para bloquear as vias, impedindo a entrada da polícia. No final da Rua Paranhos, bandidos hastearam uma grande bandeira vermelha, de onde atiravam contra os policiais. Pelo menos três militares e seis civis ficaram feridos, entre eles uma criança de dois anos, atingida por um tiro de fuzil no braço esquerdo, dentro de casa. Ela foi atendida no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, e liberada. O fotógrafo Paulo Whitaker, da agência de notícias Reuters, também foi baleado no ombro. O traficante apontado como um dos chefes do tráfico de drogas no Alemão morreu. Outras duas pessoas também morreram durante os confrontos na região, segundo a Polícia Civil. Em um balanço da Polícia Militar, já são 35 os mortos nos confrontos entre policiais e traficantes na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão desde segunda até esta sexta-feira.
Por volta das 22h, a rotina começou a ser restabelecida na Vila Cruzeiro, com a volta da energia elétrica, desligada desde que transformadores da favela foram incendiados. Segundo moradores, os tiros cessaram.
- Ainda bem que a luz voltou, porque muitos moradores também ficaram sem água - explicou uma moradora, referindo-se aos sistemas de fornecimento de água, que dependem da energia elétrica.
( Veja as fotos dos feridos )
Mais cedo, o soldado e paraquedista do Exército, Walbert, foi atingido por estilhaços de granada. Um tenente do 16º BPM (Olaria), identificado apenas como Rafael, foi baleado na panturrilha. De manhã, um sargento da Polícia Militar já havia sido ferido após ser atingido na cabeça por estilhaços, na Estrada do Itararé. O traficante Thiago Ferreira Faria, o Thiaguinho G3, de 24 anos, apontado como um dos chefes do tráfico de drogas no Alemão, morreu. Já o traficante Anderson Roberto da Silva Oliveira, conhecido como Dande, que é da Mangueira e estava escondido no Complexo do Alemão, foi preso.
À noite, o fotógrafo Paulo Whitaker, da agência de notícias Reuters, foi atingido no ombro. Ele usava colete e capacete à prova de balas. O fotógrafo foi levado para o Hospital Pasteur, no Méier. Um pedestre também foi baleado no tiroteio do início da noite. Mais cedo, uma mulher baleada de raspão na barriga na Rua Paranhos em Ramos, no fim da tarde. Luiza de Moraes, 61 anos, estava em casa quando foi atingida. Levada dentro do blindado da PM para o hospital, ela está sendo operada.
Outras duas pessoas ficaram feridas por estilhaços de tiros que atingiram o ônibus da linha 492 (Engenho da Rainha-Centro), da Viação Fábios, que passava pela Estrada do Itararé, em Ramos. O motorista Carlos Augusto Aguiar Silva, de 40 anos, parou o veículo assim que percebeu o disparo. Assustado, os cerca de dez passageiros desceram. Bruna Cássia, de 20 anos, que estava com a filha de 11 meses no colo, foi ferida na perna. Ela chorou muito ao sair do ônibus, que teve o para-brisa quebrado.
O traficante Thiago Ferreira Faria, o Thiaguinho G3, de 24 anos, apontado como um dos chefes do tráfico de drogas no Complexo do Alemão, morreu nesta sexta-feira ao ser atingido por um tiro no tórax em confronto entre traficantes e policiais militares em operação na Favela da Fazendinha.
Depois de ter sido atingido, comparsas dele renderam um casal que passava em um Palio prata pelas imediações do local do conflito e ordenaram que eles o levassem ao hospital. No trajeto, o veículo foi interceptado pela PM, que levou o traficante ao Hospital Getúlio Vargas. Thiaguinho G3 não resistiu aos ferimentos e morreu antes de chegar ao hospital.
De manhã, um sargento da Polícia Militar ficou ferido após ser atingido na cabeça por estilhaços, na Estrada do Itararé, próximo ao Complexo do Alemão, na Penha, Zona Norte do Rio. Ele foi levado para o batalhão, onde recebeu um curativo e passa bem. Bandidos da favela, para onde fugiram dezenas de criminosos da Vila Cruzeiro, também fizeram diversos disparos em direção a um helicóptero da Polícia Civil que sobrevoa a comunidade. A informação é da TV Globo.
Beltrame: 'não podemos recuar'
A polícia não pode recuar nas ações de combate ao crime e, cedo ou tarde, chegará aos criminosos acusados dos ataques ocorridos no estado. Quem garante é o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que em entrevista ao Jornal Nacional, da "TV Globo", comentou sobre as ações realizadas no Rio, nos últimos dias.
Segundo ele, as ações implementadas há dois anos passaram a desenvolver no cidadão o que é mais digno no ser humano: a esperança.
- Como disse uma moradora, o Rio precisa de uma proposta concreta. E o Rio, até pouco tempo atrás, tinha ações pontuais, sem projeto de segurança pública. E agora tem um projeto. A angústia do carioca é a minha angústia. Mas temos nosso horizonte e não podemos recuar - disse o secretário.
Sobre a possibilidade de os traficantes que saíram da Vila Cruzeiro continuarem em fuga e receberem a ajuda de outros bandidos, Beltrame disse que é necessário ocupar os territórios e cedo ou tarde a polícia chegará a esses criminosos, pois quando eles saem de seus territórios ficam vulneráveis.
Soldados que estão no Alemão atuaram no Haiti
O comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, general Fernando Sardemberg, e o 1º Comando de Patrulhamento de Área (CPA), coronel Marcus Jardim Gonçalves, distribuiram a tropa por 44 pontos do entorno dos complexos da Penha e do Alemão. Enquanto uma equipe entrou pelo Morro da Fé, a outra fez o cerco ao Complexo do Alemão pela Rua Canitar, em Inhaúma. (Veja mais fotos do Exército nas ruas do Rio)
Cerca de 60% dos soldados que estão no Alemão estiveram no Haiti e têm experiência em ações urbanas. Segundo o general, os homens vão atuar somente impedindo que traficantes saiam das favelas. Os militares não farão abordagem a moradores e motoristas.
Sardemberg, que já atuou no Haiti, disse que são 800 homens em 40 viaturas, entre caminhões e carros, e cinco carros de combate equipados com metralhadoras .50. O general acrescentou que a princípio as metralhadoras não serão utilizadas.
( Veja as fotos dos traficantes provocando a polícia )
Os bandidos atiraram a esmo como forma de provocação. Eles gritaram e mostraram as armas aos Policiais Federais, que estavam na Estrada de Itararé, um dos acessos à comunidade.
Os criminosos ainda fizeram moradores descerem e subirem por uma das ruas de acesso, ao lado da Unidade de Saúde da Família, para vigiar os policiais.