O ex-ministro José Dirceu rechaçava, antes de ser preso, qualquer possibilidade de se tornar delator na Operação Lava Jato. "Delação não tem pé nem cabeça. Primeiro porque não tenho o que delatar. Segundo porque não tem nada a ver com minha vida e trajetória", afirmou ele em mensagem enviada à coluna, diante da interpretação de que poderia, se preso, colaborar com a Justiça. E Dirceu planejava sair do Brasil antes de ser apanhado na Lava Jato. Depois de cumprir a pena do mensalão, e calculando que seria beneficiado, em 2016, pelo indulto presidencial concedido todos os anos a presos que cumprem determinados requisitos, ele programava trabalhar em outro país. O destino preferencial de Dirceu era Portugal. O ex-ministro dizia que sairia do Brasil porque sua vida profissional tinha se tornado "inviável" no país. Filhos e amigos do petista planejavam se reunir em Brasília, no domingo, para festejar com Dirceu o Dia dos Pais. Ele tinha pedido autorização à Justiça para viajar a São Paulo, o que foi negado. Entre dirigentes do PT, a intenção de manter distância de Dirceu já era evidente. Desde que se descobriu que a empresa do ex-ministro faturou R$ 39 milhões em oito anos, "não se ouviram mais nos encontros do partido os gritos de 'Dirceu, guerreiro do povo brasileiro'", disse à Folha um dirigente do partido dias antes da prisão. Além de Renato Duque, também o lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB pela Operação Lava Jato, estaria avançando num acordo de delação premiada. As informações circulam no complexo penitenciário em que os investigados estão presos, em Curitiba, no Paraná. (Mônica Bergamo)