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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Enquanto Berlim derrubava muro político em 1989, o Brasil constrói um em 2018


por Fernando Duarte
Enquanto Berlim derrubava muro político em 1989, o Brasil constrói um em 2018
Foto: Reprodução / Documentário 'A Revolução ao vivo'
Enquanto a Alemanha derrubou o muro de Berlim em 1989, o Brasil passou a erguê-lo recentemente. A reflexão foi feita pelo historiador Leandro Karnal, durante o Fronteiras do Pensamento realizado na última segunda-feira (17), e se encaixou perfeitamente para o momento político do Brasil. Ao invés de destruirmos barreiras, estamos construindo obstáculos que parecem intransponíveis para o diálogo exigido pela democracia.

O brasileiro deixou de ser paciente e cordial. Passou a ser, em diversos momentos, violento quando outra pessoa discorda do seu ponto de vista ou posicionamento sobre temas polêmicos. Os relatos são inúmeros e envolvem os mais diversos segmentos. E a culpa não é da população. É da classe política que não fez qualquer esforço para reduzir os próprios privilégios e rediscutir o papel dela enquanto representante da população.

No domingo, por exemplo, um motorista de aplicativo de transporte relatou ter levado uma advogada ao ato em prol do candidato Jair Bolsonaro (PSL). Quando questionado em quem votaria e mostrar certo ceticismo ao sugerir uma inclinação para votar em Ciro Gomes (PDT), o motorista disse quase ter sido agredido verbalmente. Como era possível votar no pedetista?, teria bradado a passageira.

A situação de tensão não é nova. Há algumas semanas, quando este espaço foi utilizado para criticar a indefinição do PT quanto à indicação de Fernando Haddad como candidato à presidência da República, choveram críticas ao meu posicionamento. Ao que parece, ao provocar a reflexão sobre a estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva automaticamente a pessoa se torna antipetista.

Em janeiro, quando tudo ainda engatinhava e o artigo se chamou “Precisamos falar sobre Jair Bolsonaro”, o tom foi ainda mais incisivo. Ao falar sobre as posturas radicais do deputado – em diversos momentos misóginas, racistas e homofóbicas -, tornei-me um “esquerdopata” que não consegue identificar que o país precisa de alguém novo para “mudar” – nota mental: como se Bolsonaro representasse efetivamente algo novo.

Como colunista político, é impossível achar que não haverá bombardeio nas redes sociais quando a opinião contrasta com a daqueles grupos alvos de críticas. Às vezes acontece até mesmo fora das redes sociais, quando qualquer pessoa é instada a falar e é atacada ferozmente por, simplesmente, pensar diferente.

A divergência faz parte. É necessária para a construção da nossa democracia. Citando ainda Leandro Karnal, a alternativa a ela é ruim, muito ruim. A ditadura impede que o cidadão defenda abertamente o voto em Jair Bolsonaro, Fernando Haddad ou Ciro Gomes, para citar apenas os três primeiros colocados nas pesquisas de opinião. E quem nega que os anos de chumbo existiram deveria estudar um pouco a própria história antes que ela se queime como aconteceu com o Museu Nacional.

Devemos destruir muros e construir pontes. O diálogo é a melhor forma de aprendermos com os nossos próprios erros e com os erros alheios. E saibamos conviver com as diferenças. E com as derrotas. Inclusive se o candidato pelo qual lutamos perder a eleição.

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (19) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.

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